Comunidade quilombola em Brumadinho destaca impactos da mineração em visita de comissão da ALMG

Moradores da comunidade quilombola Família Sanhudo, no Povoado de Tejuco, em Brumadinho, relataram impactos da mineração vivenciados no dia a dia durante visita da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais realizada nesta segunda-feira, 18 de agosto.

Atualmente, cerca de 40 integram a Família Sanhudo. O quilombo existe há cerca de 300 anos e foi certificado pela Fundação Cultural Palmares em abril do ano passado. Entre os problemas relatados estão dificuldades no abastecimento de água, alterações no modo de vida, danos ao patrimônio e problemas de saúde.

O território do Tejuco é rodeado pela mineração, sendo próximo da mina de Córrego do Feijão, da Vale. Três mineradoras operam no local atualmente e outras duas estão em processo de licenciamento. Além disso, uma pilha de estéril da Mineral Brasil, uma das empresas da região, foi licenciada recentemente.

Segundo participantes da visita, ela vai ficar a cerca de 400 metros de área residencial quilombola, em espaço que antigamente teria sido usado para lazer da comunidade.

“Quando a gente era criança, tínhamos água em abundância. Não tínhamos água encanada. Mas podíamos beber a das nascentes. Sempre usamos a água das nascentes abundantes por aqui”, afirmou Evandro França de Paula, presidente da Associação Quilombola.

Durante a visita, a comissão foi até duas das nascentes que abasteciam o Tejuco das 39 catalogadas no povoado, segundo lideranças. Evandro relatou que depois do rompimento da barragem em 2019, a Vale teria passado a ficar responsável pelo abastecimento emergencial do Tejuco, situação que perdura até hoje por meio de caminhões-pipa que enchem os reservatórios e da doação de fardos de água mineral, todas as quintas-feiras, para a população.

“Nós reivindicamos a continuidade do controle da autogestão. Não queremos entregar isso para uma empresa, seja pública ou privada. Temos nascentes em quantidade e qualidade o suficiente para abastecer a comunidade. Basta fazer um tratamento muito simples e barato”, disse Marco Antônio Cardoso, advogado popular e integrante do Sanhudo.

Outro ponto abordado foram os problemas na saúde da população ligados à atividade minerária, como doenças na pele e respiratórias e as atribuiu à qualidade da água e à poeira.

Para a defensora pública Ana Cláudia da Silva Alexandre Storch, da Defensoria Especializada em Direitos Humanos, Coletivos e Socioambientais, a mineração, muitas vezes, invade territórios de uma forma ilegal, embora amparada por instrumentos administrativos do estado. “A comunidade de Sanhudo está fadada ao extermínio. É uma luta difícil e hostil”, afirmou.

“A família Sanhudo está sendo engolida, ameaçada pela mineração. Eles tinham aqui um modo de vida ancestral, com festas da comunidade e atividades ligadas à agricultura. Agora isso está se perdendo com o avanço das mineradoras”, disse a deputada Bella Gonçalves, que esteve na visita.

De acordo com a deputada, o Tejuco é onde há maior contaminação de pessoas por metais pesados em Brumadinho, conforme pesquisa da Fiocruz, o que evidencia também os impactos da atividade na saúde da população local.

“A nossa visita foi acompanhada pela Fundação Cultural Palmares, que deve acionar a sua procuradoria para acompanhar judicialmente esses processos. E a gente vai tirar uma série de encaminhamentos para defender o território do Tejuco do avanço da mineração e garantir também o respeito aos direitos da comunidade quilombola do Sanhudo”, acrescentou.

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