Após interdições em Juatuba, coordenadora do Caps faz revelações sobre comunidades terapêuticas

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Durante o mês de setembro, cinco comunidades terapêuticas foram fechadas em uma operação conjunta entre a Polícia Militar, Vigilância Sanitária, Assistência Social e representantes da Prefeitura de Juatuba e o caso ter ganhado repercussão.

Nesta quarta-feira, 15 de outubro, uma das profissionais envolvidas na operação fez um relato chocante durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Sildézia Francisco de Andrade, coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial de Juatuba, relatou que foram resgatadas 60 pessoas dessas comunidades, embora alguns tenham sido retirados antes das inspeções. Essas pessoas relataram condições insalubres, alimentação ruim, trabalho forçado, agressões físicas, cárcere privado e ausência de assistência médica adequada. Medicamentos eram misturados em bebidas apelidadas pelos funcionários de “danoninho” e usados para manter os pacientes sedados.

“Quem se recusava a tomar, era pisoteado. Houve um que pisavam no pescoço dele para obrigá-lo a abrir a boca”, afirmou Sildézia. “Quando eles estavam sedados, eles sofriam os abusos. Não preciso descrever esses abusos”, completou. Ela conta ainda que algumas pessoas tinham ferimentos graves. “Uma pessoa sem a pele na área das costelas e dos ombros por causa de golpes de mangueirada”, relatou.

Apesar de cinco entidades terem sido interditadas, outras ainda funcionam e algumas das pessoas resgatadas foram reinternadas pela própria família. “É revoltante. Um usuário estava aqui sendo bem tratado e veio uma ordem judicial, que a família conseguiu, para interná-lo em outra comunidade terapêutica”, contou a servidora.

Apesar de a maioria dos internados serem usuários de drogas, há casos de pessoas que simplesmente eram rejeitados pelas famílias em função de problemas de saúde. “Há uma garota de 23 anos que é muda e autista. A família queria sossego e colocou ela lá”, lamentou Sildézia.

Ela conta que Juatuba tem uma extensa área rural, ideal para pessoas que buscam um local isolado para a prática de crimes. “Essas pessoas buscam lugares escondidos para praticar crimes, pois são criminosos, não há outro nome”, relatou.

Ainda de acordo com Sildézia, há uma rede de 12 comunidades terapêuticas no município, com ligações com políticos e apoio dos familiares das vítimas internadas.

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